Telemóveis fornecem mapas da densidade populacional portuguesa
Bastaram registos anónimos de milhões de chamadas móveis para se conseguir cartografar as deslocações dos portugueses no dia-a-dia, ao fim-de-semana ou nas férias. A técnica poderá ser utilizada, por exemplo, em caso de urgência humanitária ou de catástrofe natural, em regiões do mundo onde não existem dados demográficos fiáveis ou actualizados.
As grandes cidades portuguesas esvaziam- se em Julho e Agosto, com toda a gente fugir para as praias – sobretudo as do Algarve. A maioria dos portugueses trabalha em meio urbano – e, ao fim-de-semana, muitos citadinos vão passear para o campo ou a serra. Uma equipa internacional de cientistas conseguiu visualizar estes movimentos populacionais, com uma resolução espacial e temporal sem precedentes, simplesmente com base em milhões de dados (anónimos) da actividade de utilizadores de telemóveis residentes em Portugal. Os seus resultados foram publicados recentemente na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Para realizar o estudo, os cientistas utilizaram milhões de registos de chamadas móveis fornecidos por operadores de telecomunicações móveis de Portugal e França. “Em Portugal, tivemos acesso aos dados de dois milhões de utilizadores (cerca de 20% da população) e em Franca aos de 17 milhões de utilizadores (perto de 30% da população)”, disse ao PÚBLICO Catherine Linard, co-autora da Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica). Porquê Portugal? “Escolhemos Portugal simplesmente porque tínhamos acesso a uma base de dados de chamadas e os dados do censo português são suficientemente precisos”, explica a cientista.
Os mapas com base nos telemóveis apresentam porém uma vantagem única: não são estáticos e permitem revelar as variações ao longo do tempo da densidade da população de um país quase em tempo real.